Acordo, são 6 da manhã, o celular desperta, um violão, uma
música falando sobre o tempo. Pego meu celular, não tenho sono, mas decido
apertar o botão soneca e ganhar mais dez minutos de procrastinação. 6:10, 6:20,
6:30, até que cancelo o alarme e decido ficar em casa. Me imaginei voltando pra
casa dos meus pais no interior, chegando com a sobrancelha franzida, dizendo a
minha mãe que fracassei. “Não consegui mãe, desisti. Me deixa fracassar, pois
não quero fazer nada da minha vida” –pensei. Levanto-me às 9:42, vou até o
banheiro, e sem lavar a remela dos olhos já pego a minha escova de dentes, meu
creme dental branqueador para dentes sensíveis que meus pais pagaram, quase desisto.
Prossigo com a escovação, e uma enxurrada de pensamentos sobre o provável
invade minha cabeça, “porque diabos tenho de ser conivente de obrigações, se
sequer dei aval pra nascer em uma sociedade?” –pergunto mentalmente a meus
pais.
Ai de mim. Devia estar na aula. Dane-se. Ligo o computador e
vou jogar. Perco. Desisto. De repente percebo que há tempos não transo, não
tenho tido saco pra mulher também. Tento escrever sobre. Desisto. A vida já
havia se tornado maçante, depois das mulheres, da bebida, das causas sociais, o
universo parecia se fechar pra mim, côncavo, preto, mas tinha meu orgulho. O
orgulho de quem chega em uma mesa de bar, a mulher da esquerda já tenta
mediocremente não demonstrar interesse, e termina a noite em uma cama comigo, e
a manhã da mesma noite acaba sem troca de telefone (na verdade termina sem
sequer troca de nomes ou experiências). Tem sido meu orgulho, e o orgulho me
enoja às vezes.
Sou uma pessoa sem causa, no meio de uma turma da faculdade
de filosofia que ama as causas políticas, fazer o que, as pessoas se justificam
e as causas são sempre nobres, não entendemos a natureza humana, mas quando se
faz parte de um grupo de humanistas, tende-se a querer sobrepor o
intelectualismo à natureza do homem. Besteira, eu quero é transar. Transo mais
que eles, e como nós homens pensamos em sexo o tempo inteiro, sou mais natural.
Foi assim que meu amigo escritor me explicou, claro que o discurso dele foi
mais complexo, mas tô com preguiça de escrever essa história, sou um poeta
maçado pela prática da escrita pelo cansaço que me dá usar as mãos para teclar,
ou escrever ou até passar a limpo (passar a limpo, meu deus, que absurdo). Ah,
e sim, sou poeta. Pelo menos digo de forma orgulhosa que sou poeta. As garotas
gostam. O rosto sério e com expressões de descaso intimida, e pessoas nunca
sabem quando te levam a sério ou quando devem perceber que você só está
praticando a arte de ser um incoerente. Me permito ser incoerente ou hipócrita,
é divertido quando se está perto de pessoas que não têm em suas sensações a complexidade
da vida; que não sentem isso.
Paro de pensar na sociedade, nos meus pais, vou fazer um
café. Café e cigarro, a libertação dos meus 5 minutos que procedem depois de
acender meu tabaco. “Tabacaria” de Fernando Pessoa, meu deus, que poema! Depois
de um ano de reclamações sobre o cheiro do meu cigarro, por parte dos moradores
do pequeno sobrado que moro no centro da cidade, ainda não consegui me privar
da melhor das sensações que é meu café e cigarro nas manhãs de terça feira
(desisti de pegar aulas nesse dia). É um tanto quanto difícil lidar com a
rinite e com a fraqueza de pulmão, devido a uma bronquite
e que tive quando criança, mas tento pensar que é uma forma
de limitar minha caminhada no tempo da vida, tirar de mim aquele peso de quem
almeja ou tem que almejar um certo tipo de vitória ou conquista. Todos os meus
amigos que pararam de fumar dizem isso com certo orgulho, acho que no fundo
eles agradecem por ter fumado, senão de que forma poderiam se gabar dessa “conquista”.
Amigos, meus irmãos, sentados no bar, todos orgulhosos da merda que venceram na
vida, mas no fim da noite ninguém nunca chora, ou diz que é frágil ou que foi
frágil.
No bar eu fico na mesa dos velhos. Um deles, aos seus 56
anos, adora se gabar dos filhos. Um rapaz branco de cabelo liso, frequenta
academia, tem braços grandes, deve transar muito. Será que eu fico atrás? No
interior aprendi que nada intimida mais do que uma quantidade de mulheres no
menu (isso soou meio machista mas isso é um livro, e posso falar nele sobre uma
cultura que vivi). Eu nunca tive um menu, eu tive circunstâncias, e talvez por
força do destino, sempre que estive com belas mulheres, tive,,,,,,, testemunhas
para demonstrar o poder do pseudo-poeta que recita, encara e cativa o sexo
feminino. Como era bom ter o prazer do sexo e do reconhecimento ao mesmo tempo!
Era? Ainda é. Eu é que estou me abstendo de chegar chegando nos locais,
abocanhar uma vagina, e sair com o olhar de quem aprendeu que a mente da mulher
não é complicada para os homens, os homens é que não sabem descomplicar o fato
de que não são as palavras que cativam as mulheres, mas a estética de quem as
diz. Não falo sobre estética dizendo simplesmente que sou bonito, mas de algo
que engloba tudo que você faz enquanto carne. Até a palavra tem uma estética.
Os sons têm forma, os olhares têm forma, e o processo de significação das
formas usado pelas mulheres é muito fácil de decifrar. Não é sobre ser
carinhoso, não é sobre caráter, é sobre uma cadeia de palavras ditas com
determinado tom de voz, em determinadas circunstâncias, com certas
gesticulações. A conquista é uma arte, e a arte apesar de querer ser livre
estará sempre fardada ao exprimível, às experiências, ao sistema nervoso.
Não me julgo ninfomaníaco, nem tampouco um “fodão”. Sou um
cara que aprendeu a conquista e o sexo, e se gosto não é simplesmente porque é
natural gostar dele, mas porque ele me leva ao reconhecimento, o qual gosto
culturalmente, sou conivente disso. Educação, sociedade, já desisti. Admiti na
oscilação de minhas crises existenciais que sou um acidente, estou condenado a
ser esse acidente até o fim de minha vida. Coisas agindo sobre coisas, a vida
agindo sobre você, toda a merda que eu fiz é fruto de coisas anteriores e essas
coisas frutos de outras coisas. O acidente da existência é sempre chato, é uma prática
sem finalidade, assim como a amizade, o amor e a verdade. ‘Toda finalidade é
uma ilusão, então eu vou foder com a minha” -pensei ao colocar a caneca de café
sobre a mesa do computador.
No mais vou parar de falar sentimentalmente sobre meus
conceitos, vou parar de achar alguma coisa e escrever esse livro. De forma
simples, indiscreta, e quero vende-lo. Serei um mercenário da escrita, por
estar convicto de que na vida não vou achar causas e ideais, e provar a todos
esses garotos de academia, de fotos sorridentes, de grupos de jovens da igreja,
que NINGUÉM COME MAIS QUE O POETA.
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